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Advocacia da Desilusão: o que está distanciando os jovens da profissão

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Ainda me impressiono com a proporção de jovens estudantes ou recém-formados na área do Direito que se encantam pelo trabalho desenvolvido pela PACT e buscam alternativas às práticas tradicionais do mercado jurídico.

Ainda somos o país com maior número de faculdades de Direito, assim como o maior formador de advogados: a cada 190 pessoas, há 1 advogado. Porém, se pudermos simplificar a escolha da profissão em duas vertentes, sendo uma objetiva; como uma profissão que é tradicionalmente associada ao sucesso financeiro e outra subjetiva; uma profissão normalmente sugerida aos alunos interessados em assuntos que versem sobre filosofia, história e literatura que gostam de debater, discutir regras e comportamentos e principalmente, falar sobre justiça.

O que se verifica é que seja pelo aspecto objetivo ou subjetivo a realidade jurídica tende a frustrar cada vez mais as gerações que se aproximam do ingresso profissional. 

No âmbito financeiro, o excesso de oferta pressionou negativamente as posições de novos advogados e a perspectiva de uma carreira de sucesso passou a ser um ideal cada vez mais longínquo. Vejo constantemente as posições jurídicas em empresas diminuindo o número de vagas, remuneração e espaço nas cadeiras de Diretoria. Na esfera de escritórios de advocacia, há relações rígidas de hierarquia, planos de carreira burocráticos e expedientes de 10 a 12 horas diárias, combinação colidente aos ideais das novas gerações.

No âmbito subjetivo, a prática jurídica, especialmente quando voltada aos litígios se distancia muito das ideologias de promoção da paz e justiça que pode se imaginar na escolha profissional. E, justamente nesta vertente, vejo o interesse destes jovens em práticas alternativas, como a negociação e a mediação, mesmo porque a geração mais nova se caracteriza pelo trabalho como meio de gerar impacto social e de uma simbiose maior entre trabalho e propósito de vida.

Mas qual é a saída?

Uma nova advocacia já existe e está ganhando espaço por todo o mundo. Para as gerações mais jovens que buscam se aproximar do propósito que as motivou a se tornarem profissionais da advocacia, um novo mundo se abre por meio das startups e das Alternative Legal Service Providers (ALSPs). 

São essas novas possibilidades que tornam possível o resgate do exercício das habilidades e conteúdo jurídico como um instrumento ao invés de um fim em si mesmo. Neste sentido, o tão clamado sonho de ser sócio de um escritório de advocacia parece estar sendo substituído pela vontade de encerrar litígios e de pertencer a um universo mais fluído, oferecendo soluções mais diversas, justas e com capacidade de gerar impacto social. 

Os métodos alternativos de resolução de conflitos

A mudança de paradigma tem colaborado para difusão de uma cultura de não-litígio entre os jovens advogados. Consequentemente, vêm ganhando força novas formas de solucionar conflitos, através de mecanismos mais céleres e menos onerosos, como a negociação, a conciliação, a mediação e a arbitragem. 

O judiciário não é mais visto como o único sistema possível para solução de litígios. Até porque, muitas vezes, o Poder Judiciário é capaz de dirimir controvérsias, mas nem sempre solucionar o conflito, o que contribui para que o mesmo litígio volte aos tribunais, que, abarrotados, cada vez mais se distanciam reais pacificadores da sociedade.

O próprio conceito de justiça deixa de ser exclusivamente derivado de uma decisão do Judiciário e passa a ser compreendido como a solução possível e aceitável entre as partes integrantes de um conflito. 

Além dessas mudanças, a desjudicialização, somada ao interesse dos jovens advogados por práticas alternativas e por tecnologia, vem provocando outras disrupções no mercado jurídico, com destaque também para a difusão dos ALSPs.

ALSPs: uma realidade em crescimento

Alternative Legal Service Providers se caracterizam como organizações que oferecem soluções para problemas jurídicos com estruturas mais flexíveis e abertas, envolvendo não apenas recursos humanos (advogados), mas também tecnologia e outros profissionais “não jurídicos”.

A necessidade de equilibrar aumento na demanda com redução de custos, manter-se em conformidade com um ambiente regulatório desafiador e em constante mudança, ao mesmo tempo em que capitalizam os avanços tecnológicos e atraem talentos, tem provocado mudanças nos negócios e na forma como os departamentos jurídicos operam.

Apesar da existência de vários fatores-chave que estão levando as empresas a considerar o uso de ALSPs, destaca-se a necessidade de “fazer mais com menos”. Uma pesquisa feita pela Ernst & Young, com 1.058 profissionais jurídicos seniores de empresas em todo o mundo, demonstra que 82% das empresas pretendem reduzir custos com os departamentos jurídicos nos próximos anos.

Nesse cenário, o interesse nas ALSPs tem sido crescente. A pesquisa constatou também que, enquanto 33% das empresas já terceirizam uma ampla gama de serviços jurídicos, outros 41% consideram fazê-lo. 

Os ALSPs, ao operarem com maior flexibilidade, têm atraído jovens talentos. Apesar de o mercado jurídico ainda não ter se adequado para atender as ambições de muitos destes novos entrantes, uma nova advocacia é possível e está ganhando forças! É essa realidade que vivenciamos diariamente na equipe PACT.