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Como a Quarta Revolução Industrial transforma o setor jurídico das empresas

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No período entre 1760 a algum momento entre 1840, o mundo passou por uma grande mudança no processo de fabricação. Chamada de Revolução Industrial, as máquinas-ferramentas e a energia a vapor substituíram os métodos tradicionais de produção manual. 

Essas mudanças alteraram quase todos os aspectos da vida e aumentaram a produção e a eficiência para níveis nunca considerados possíveis.

Mas a Revolução Industrial não foi um evento singular. A inovação contínua levou a várias revoluções desde aquela época até o momento presente. Pode-se dizer que, hoje, vivemos a Quarta Revolução Industrial, caracterizada por uma série de novas tecnologias que estão fundindo os mundos físico e digital, impactando todas as disciplinas, economias e indústrias. E isso inclui o mundo jurídico.

Neste artigo, trazemos questões que exigem consideração para determinar como o meio jurídico tem se transformado com a Quarta Revolução Industrial, trazendo mudanças significativas na maneira como vivemos, interagimos e fazemos negócios. Trazemos um caso concreto dessa transformação, realizada por um conglomerado industrial centenário.

Quando a vida te dá limões…

O fato de a Quarta Revolução Industrial ser impulsionada por máquinas inteligentes que podem realizar tarefas complexas automaticamente, comunicando-se com outras máquinas, com pouca ou nenhuma intervenção humana, significa que essa revolução terá um impacto muito mais exponencial do que as anteriores. Afinal, ela irá unir o mundo físico com o digital.

Isso tem o potencial de expor as empresas a riscos. Quando um veículo autônomo atropelou uma pedestre nos Estados Unidos, por exemplo, surgiram questões jurídicas até então impensadas. O mesmo ocorreu em relação à política de privacidade de dados do Facebook. Presenciamos também grandes personalidades, como Bill Gates e Elon Musk, cuja influência sobre suas tecnologias resultaram em diversos debates e regulamentações.

O crescimento exponencial de novos produtos da era digital tem exigido agilidade na avaliação de riscos de cada oportunidade para um design estratégico correto e viável. E, considerando que a mentalidade dos próprios empresários também mudou, os serviços de apoio às suas iniciativas precisam ser mais eficientes, ágeis e econômicos, que envolvem encontrar soluções para seus problemas com mais assertividade analítica.

Novas formas de prestação de serviços jurídicos

Diante dessa transformação da atividade econômica, a prestação de serviços jurídicos também está se modernizando. Mais do que nunca, a assessoria jurídica é necessária desde o início do negócio (para proteção de inovações, constituição de startups, avaliação de riscos etc.); a apresentação de novas formas de soluções de litígios também são uma marca da Quarta Revolução Industrial, propondo novos formatos de condução das disputas inerentes aos negócios.

Isso abre um leque de oportunidades para os profissionais jurídicos, que têm uma janela para se desenvolverem – e isso engloba desde a adoção das mais recentes tecnologias, até a oferta de serviços especializados para ajudar os clientes e advogados a encontrar meios menos burocráticos e mais eficazes para suas necessidades.

Em um artigo intitulado “How COVID-19 Impacts Law Firms”, o autor fala sobre as novas maneiras de se fazer negócios, afirmando que os empresários procurarão serviços jurídicos para ajudá-los a prevenir e/ou solucionar demandas na condução de seus negócios. É um desafio importante por si só, não só pela formação especializada e contínua que se exige, mas também pelos diferentes meios e formas de trabalho, alterando a gestão tradicional de escritórios de advocacia e departamentos jurídicos.

Como resultado, o Data Analytics está afetando tudo, desde pesquisas precisas até a elaboração de estratégias ou a avaliação dos méritos de um caso. Essa tecnologia é capaz de fornecer dados melhores, mais limpos e ricos, permitindo o surgimento de insights específicos diretamente relacionados a uma questão jurídica.

As Legal Techs também serão utilizadas com mais frequência para melhorar a agilidade e eficiência das operações jurídicas. Esses produtos inovadores são capazes de reduzir significativamente o tempo e o custo dos trâmites processuais e da sua gestão para alavancar os resultados.

Internamente, os profissionais jurídicos também podem contar com assistentes digitais, como inteligência artificial, que se tornam mais assertivos à medida que processam mais informações. Isso libera os operadores do Direito para se concentrarem em serviços jurídicos de maior valor agregado aos clientes, internos ou externos.

Como corolário, não adotar a Quarta Revolução Industrial poderia ter um impacto potencialmente sério sobre os rendimentos futuros dos escritórios de advocacia e departamentos jurídicos, resultando, ainda, numa redução de suas vantagens competitivas.

Desafios e oportunidades

De um modo geral, parece haver essa noção equivocada de que a automação significa menos empregos. Porém, não se trata de tecnologias substituindo operadores do Direito. Na verdade, trata-se do uso dessas ferramentas em conjunto.

Talvez o Homem de Ferro seja a analogia apropriada. O traje do herói não é tão útil sozinho, mas sim quando o personagem Tony Stark o está vestindo. Convenhamos: Tony é muito mais capaz em sua sofisticada armadura ao invés de vestir um terno…

Nesse sentido, há motivos para otimismo. Aliás, a própria a história serve de exemplo: Um estudo da consultoria McKinsey mostrou que, só nos Estados Unidos, entre os anos de 1980 e 2015, 3,5 milhões de empregos desapareceram por conta do aparecimento do computador. No entanto, neste mesmo período, surgiram outros 19,2 milhões de novos trabalhos em razão da mencionada novidade tecnológica, uma reposição de postos de trabalho de mais de 5,0 vezes.

O Fórum Econômico Mundial relata que 38% das empresas acreditam que a tecnologia de inteligência artificial e automação permitirá que os funcionários realizem novos trabalhos que aumentam a produtividade.

Ainda é cedo para dizer se a tecnologia chegará a um estágio que possa substituir todas as funções ligadas ao Direito, por exemplo. É mais provável que a tecnologia capacite uma nova era de inteligência aumentada com profissões jurídicas ainda fazendo julgamentos cruciais, mas com ferramentas poderosas para obter insights mais precisos. 

As máquinas são ferramentas, mas os humanos são estratégicos – enquanto as máquinas aceleram os processos e facilitam as tarefas onerosas, os humanos conduzem todo o processo.

Aqui na Pact acreditamos que a Quarta Revolução Industrial terá um impacto positivo no futuro do trabalho. Isso nos permitirá focar em tarefas mais significativas e ajudar as pessoas, em todos os setores, a concluir seus trabalhos com um padrão mais alto. 

Temos uma relação de longo prazo com um cliente que é um conglomerado industrial centenário e multinacional. Há cerca de 3 anos, participamos do início da transformação do seu time jurídico para uma estrutura 4.0. 

Além da reorganização de organograma, com adoção de um núcleo de Legal Operations/Eficiência Jurídica, implementamos novas ferramentas de gestão baseadas em Legal Analytics e automatização de dados.  Importante ressaltar que não houve mudança de sistema de gestão de processos (ERP – Enterprise Resource Planning), e sim a complementação de ferramentas de automação, estruturação de dados e painéis de gestão.

5 pilares fundamentais foram impactados com essa transformação digital: (i) higienização contínua de dados; (ii) segurança da informação; (iii) painel de indicadores chaves (KPIs); (iv) previsibilidade de provisionamento; e (v) acompanhamento dos planos de ação. A renovação do modelo de gestão agregou ganhos imediatos na governança jurídica, com report direto e claro aos controladores estrangeiros.

Além disso, as ferramentas catalisaram a implementação de planos preventivos e corretivos com evolução dos principais indicadores da companhia. Em apenas um ciclo do ano fiscal (12 meses), foi possível reduzir o ticket médio de provisionamento em 9%; o indicador de novos processos de colaboradores demitidos era de 20% em 2020, reduzindo para 4% em 2022; e 100% da base de contencioso atualizada para revisão mensal de provisionamento.

Os aspectos tecnológicos, por vezes, assombram as lideranças jurídicas que desejam transformar as suas rotinas. A realidade não é menos complexa, mas certamente é menos complicada do que se imagina. Atualização constante dos profissionais do Direito e a abertura para parcerias tecnológicas são pilares fundamentais para absorver a Quarta Revolução Industrial nos departamentos jurídicos e escritórios de advocacia.